terça-feira, 28 de outubro de 2008

Reviravoltas

Essa semana está sendo bem diferente com mudanças nas condições climáticas, no horário e me arrisco até a dizer que o humor das pessoas!

Sábado passado acabou o horário de verão aqui, estamos uma hora adiantados em relação a semana passada. O lado bom é que com o horário de verão no Brasil, diminuiu a diferença de fuso horário e estamos a apenas 3 horas de diferença. O lado ruim é que anoitece mais cedo, às 5 da tarde já começam os primeiros sinais de que o dia está acabando e às 6 da tarde o breu toma conta do dia! Isso complica na volta para casa, especialmente se for de bicicleta! Ainda não consegui saber se a lanterna e a sinaleira da minha bicicleta serão suficientes para me proporcionar uma volta segura, pois chove desde segunda a tarde.

O anoitecer mais cedo + chuva + dias inteiramente cinzas + queda de temperatura, deixaram esse início de semana mais "pesado" que o normal. Mas é bom eu ir me acostumando pois o pior ainda está por vir... tenho um inverno inteiro pela frente! E ainda por cima, nem posso me queixar, pois aqui até que está anoitecendo tarde comparado com outros países como a Suécia, por exemplo!

Para mostrar que essa semaninha promete, colo abaixo a previão do tempo:


Como pode ser visto tem muita nuvenzinha com chuva pela frente. Talvez tenha sol na quinta, mas é incerto, assim como é incerto se vai ter neve nesse mesmo dia. Eu até gostaria de assistir a queda de flocos de neve (já vi neve, mas nunca a vi caindo!), seria a compensação de tantos dias cinzas! Se o sol não der as caras na quinta, por enquanto a previsão aponta a próxima chance só na próxima segunda.

Nesse ritmo de dias cinzas e molhados, parece que as pessoas ficam com expressões mais fechadas que já são naturalmente. Dá uma saudade de comer bergamota naquele solzinho de inverno do meu Rio Grande do Sul amado! Mas já que não posso comer bergamota no sol, tomo vinho dentro de casa mesmo!!

domingo, 26 de outubro de 2008

E o que se bebe?

Vinho!!

Pois bem, a convite de uma amiga (valeu Fabi!), ontem eu fui prestigiar uma feira de vinhos que está acontecendo aqui. O nome da feira é Le Millesime 2008 - 14 e Festival Oenologique & Musical de Grenoble. E é bem isso, degustação de vinhos, alguns alimentos típicos e música, somente coisas que os franceses adoram. Pena que eu esqueci de levar a máquina fotográfica!

Na entrada da feira, tu pode comprar uma taça por 6 euros. Ter uma taça te capacita a degustar os vinhos em todos os estandes. Mas veja bem, é degustar, não é beber. Logo, tu vais receber um golinho de vinho de cada tipo que tu quiseres experimentar. Daí tu faz aquela cena toda: olha o vinho pela taça, sacode, cheira bastante e finalmente toma uma gole. Detalhe: este último ítem nem é obrigatório, pois muitos apenas colocam o vinho na boca e gospem em baldinhos apropriados que ficam a disposição do público. Nem preciso dizer que não desperdiçei um gole se quer!

Encontramos um produtor de vinho de Bordeaux super simpático (nem parecia francês). Ele conversou com tanto empenho conosco, nos mostrou diferenças entre os vinhos, explicou que na vinícula dele tem quartos que ele aluga a visitantes (pequei um cartão pois depois de conhecê-lo me interessei ainda mais em conhecer a região de Bordeaux), mostrou num mapa de onde ele vinha, enfim, foi tão simpático que até compramos vinho dele em retribuição a simpatia. Deixo registrado que deixei de comprar pelo menos 2 garrafas de vinho por feirantes ranzinzas que me serviram vinho com uma cara de: "essa guria só quer beber do meu vinho "de graça", fala esse francês com sotaque, capaz que vai comprar vinho!". E não comprei mesmo!

Existiam também espécies de salas onde um carinha falava enquanto a gente degustava um monte de vinhos de uma mesma região. Ele explicava as principais características um por um enquanto a gente bem sentado ia sorvendo golinhos dos tais vinhos. Nós nem estavamos dando tanto valor assim a esse ritual até alguém perguntar o preço de uma garrafa daqueles vinhos. A faixa de preço era de 35 a 45 euros! Daí percebemos que aqueles aí eram os que não eram oferecidos nos estandes! E foi em torno de 1 hora só degustando vinhos caros! Uma alegria!

De quebra, na parte de alimentos, eu tive a oportunidade de provar escargot!! O bicho já estava fora do caramujo, ele estava "nadando" num molho verde forte, peguei ele com um palito, coloquei na boca e imaginei que era um pedaço de picanha! O gosto não era ruim, era o gosto do tal molho e o bichano tinha textura de um pedacinho de coração de galinha. Nada mal! Provado mais uma das especiarias francesas!

Como nem tudo são alegrias, quando decidimos ir embora, ao chegar perto das bicicletas percebemos que delinquentes tentaram roubar os bancos delas. Os marginais daqui se não conseguem roubar as bicicletas castigam os proprietários por comprarem cadeados caros e resistentes, roubando os bancos. Elas estavam estacionadas numa rua naturalmente bastante movimentada de Grenoble que com a feira ficou ainda mais. Deve ter sido por isso que os delinquentes não conseguiram terminar sua traquinagem. Como dizem aqui: C'est la vie! Mas que as mães dos safados foram bem xingadas, ahhh, isso elas foram!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O que se come por aqui - II

Conforme o prometido, hoje lhes apresento a Tartiflette... e nas versões: pronta para ir ao forno e depois de assada!

Ela é uma torta a base de batata incrementada com lardons (um parente do bacon) fritos com cebola, crème fraîche (um parente do creme de leite) e queijo reblochon (não achei nenhum parente desse queijo ainda, mas vou achar pois pretendo voltar para o Brasil e inventar uma parenta da tartiflette!). Para fechar com chave de ouro, eu segui a sugestão de colocar aproximadamente um calice de vinho branco antes de ir ao forno.



Faltou dizer que a tartiflette é muito gostosa! Para quem se interessou, essa aí é a receita que uso como base.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Pseudo-ilegalidade

A minha maior dor de cabeça desde que cheguei aqui é causada por um documento que me irá me caracterizar como uma moradora da França chamado Titre de Séjour. Eu vim do Brasil com um visto de estudante válido por 3 meses e minha obrigação era a de solicitar o tal documento nos 2 meses seguintes a minha chegada aqui. Eu fui fazer a solicitação ainda em maio, e foi aí que começou a novela.

Para encurtar a história, eu tive a "sorte" de ter vindo após uma mudança nas leis em 2007, logo tudo o que valia para os que estiveram antes de mim aqui não era mais válido. O "Q" da questão é que eu não estou matriculada em nenhuma universidade francesa, porque vim para fazer pesquisa num laboratório francês sob orientação de um professor de uma universidade francesa, mas não vou cursar disciplinas. Logo, se eu não estou matriculada, eu não sou estudante e se eu não sou estudante eu não tenho direito ao documento. Eu até concordo com a lógica, eu só não sabia disso antes de vir para cá.

A solução encontrada e sugerida pela secretária do orgão público responsável (que já não aguentava mais me ver e deixava isso bem, digamos, transparente) foi a de pedir o mesmo documento na condição de cientista. Beleza. Providenciados os documentos necessários e depois de um pouco de emoção e discussão na entrega dos mesmos, foi... eles foram aceitos. Eu ganhei um documento temporário válido por 3 meses, que me deixava em ordem com a lei, e fui aconselhada a esperar por uma convocação para uma consulta médica. Eu esperei, esperei, esperei, ... Quando faltava um mês para terminar a validade do documento temporário eu fui perguntar se, por acaso, eu já não deveria ter recebido a convocação para a tal consulta. Primeiro a secretária me disse que eu tinha que esperar e ponto. Depois ela resolveu refazer o pedido de consulta. Pedido refeito, a convocação chegou bem para um dos dias em que eu estaria em Berlin! (urucubaca pouca é bobagem!) Lá fui eu apresentar justificativas e pedir a remarcação da consulta.

Resumindo de novo... o documento temporário venceu na segunda passada e minha consulta é só no dia 12 de novembro, até lá estarei pseudo-ilegal. Mas calma! Não é tão grave assim! (por isso é pseudo!) Eu tenho uma atestação de que o meu titre de séjour está pronto e que só falta a consulta médica, mas é claro que por via das dúvidas não vou viajar enquanto estou nessa situação. por via das dúvidas.

Como me disse um colega grego: "no dia em que tu colocares as mão no teu titre de séjour tu vai rasgar ele em pedacinhos para comemorar!!" Pior que dá vontade!

domingo, 19 de outubro de 2008

Alles Gute

Na semana passada estive em Berlin. Resumindo Berlin em poucas palavras: "Mas que cidade legal!". Vejam só:

1) Ela tem um sistema de transporte público maravilhoso e que funciona (o meu tempo máximo de espera foi de 5 minutos!!). Olhando um mapa, é barbadinha de se achar e de descobrir como chegar aonde se deseja.
2) Berlin transpira história, e uma história recente e envolvente. Olhando para um lado vê-se marcas de guerras e destruições do início do século, mais adiante vê-se marcas da guerra fria e de seu muro cortando a cidade, andando mais um pouco vê-se apenas as marcas do muro após sua queda logo alí em 1989. Tudo isso pode ser "sentido" nas ruas, o que causa quase que um encantamento para quem a visita. Pelo menos em mim, causou.
3) Ela desperta reflexões, tais como: "Um povo que vive as misérias das guerras, que vê suas ruas transformadas em ruinas, que convive com o medo e as angústias da guerra fria e hoje nos apresenta a Berlin que eu vi, realmente esse é um povo forte". (Nota: não discuto os méritos das guerras nem quem estava certo ou errado pois não tenho competência para isso. O que eu posso dizer é que o povo que viveu tais misérias sofreu muito, isso dá para sentir no ar até! E esse mesmo povo para chegar onde está hoje teve que ser muito forte.)
4) Eu conheci Berlin no outono, os tons de amarelo, laranja e marrom das folhas deixava os caminhos muito mais belos e encantadores.
5) É uma cidade com um custo de vida baixo perto daqui na França.
6) No supermercado compra-se cerveja, e cerveja muito boa, de meio litro a centavos!!! Por exemplo, compra-se uma Erdinger por em torno de 80 centavos!! Só alegria!!!

Enfim, todos esses motivos e mais alguns outros, não necessariamente na ordem em que foram apresentados, me deixaram com um gostinho de quero mais. Um dia eu ainda volto a Berlin... mas com certeza!!

Agradeço por ter bons amigos que resolveram morar em Berlin e ao meu co-orientador que está trabalhando uns dias lá. Graças a vocês eu conheci essa cidade encantadora. E é claro, um muito obrigada especial ao Danilo que foi meu anfitrião nesses dias.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Campo Minado

As calçadas francesas são verdadeiros campos minados, só que de cocô de cachorro. É simplesmente imprescionante!! O que impresciona também é a quantidade de donos passeando com seus cachorrinhos/cachorros/cachorrões. E lá vão eles fazendo xixi em tudo que encontram e deixando pequenas/médias/grandes armadilhas pelas calçadas. Sim, aqui também existem donos mal educados (e muitos a julgar pela quantidade de cocôs encontrados) que não recolhem o cocô de seu amado animal de estimação. E olha que existem até uns destribuídores de saquinhos de lixo espalhados pelas calçadas com desenhos ilustrativos para que os donos recolham os rejeitos de seus animaizinhos! Pelo que se vê, esses distribuídores não fazem muito sucesso, não.

Também existem locais específicos para os animaizinhos fazerem suas necessidades. É tipo um cercadinho, em geral com areia e um palanque no meio para instigá-los a erguer a patinha e fazer suas necessidades. Como muitos bixanos fazem suas necessidades alí, é evidente que o lugar fede e tem uma aparência nada agradável. Logo, muitos donos de animais acham anti-higiênico deixar seu amiguinho fazer as necessidades alí. Mas daí não precisava deixar o cocô na calçada, né?!

Quando visitei Voiron eu vi uma placa super instrutiva para os donos de cachorros. Não resisti e fotografei, vejam ao lado. Para quem não entende francês, o cachorrinho da placa diz: "Em Voiron a gente não é porco!!". Ela aponta para um daqueles cercadinhos que falei, e ainda avisa que só faltam 60 metros.

domingo, 5 de outubro de 2008

Cave de la Chartreuse

Ando relapsa com o blog, mas tentarei voltar a ser mais ativa.

Hoje quero contar sobre a visita que fiz a Cave de la Chartreuse que visitei na semana passada. Cave, nesse contexto, é adega e Chartreuse, além de ser o nome de uma cadeia de montanhas é o nome de um licor francês. A receita desse licor foi desenvolvida lãã em 1605 por monges que habitavam num mosteiro nas montanhas e é mantida em segredo até hoje. A receita é uma mistura de ervas e flores (em torno de 130) que dão um gosto característico e peculiar ao licor que pode ser verde ou amarelo conforme a combinação de ervas.

Tudo começou quando os monges resolveram construir o mosteiro nas montanhas em 1084, mas logo viram que ia ser difícil mantê-lo somente com a caça, pesca e o que a montanha oferecia para subsistência. Então primeiro os monges retiravam minérios de minas que existiam nas montanhas e quando este acabou, passaram a cortar e vender madeira. Quando o desmatamento foi proibido na região os monges usaram o conhecimento e estudo que tinham sobre ervas e desenvolveram a receita do licor. Garrafas do licor eram levadas no lombo de mulas do monastério até Grenoble e vendidas para militares e senhores da corte como um elexir da vida.
Em pouco tempo o licor tornaria-se famoso nacional e internacionalmente.

Nisso, veio a ruptura entre o estado e a igreja e os monges foram expulsos do mosteiro, levando a receita para um outro mosteiro na espanha. Passada a crise, os monges voltaram. Houve mais umas trocas de cidades até que em 1930 a Cave que fomos visitar fosse inaugurada (foto) em Voiron. Ela é a maior cave de licor do mundo, segundo a explicação da nossa guia. A ripa branca tem um cano transparente que mostra a quantidade de licor dentro da pipa. Os baldinhos são para conter as gotas dos vazamentos!! O cheiro do local é aquele cheiro que quem já visitou um alambique sabe qual é misturado com um cheiro de ervas.

A visita é bem interessante e gratuíta. Cada grupo de pessoas sai com uma moçinha para explicar e tirar dúvidas. A primeira atividade é ver um video que conta a história do pergaminho com a receita. Depois percorre-se a cave, ida e volta, em toda a sua extensão ( foto). Em seguida assiste-se um outro video que conta a história do mosteiro até chegar na cave atual em Voiron. Só que este útimo é em 3D e visto com um óculos especial, o que o deixa bem interessante! Saíndo do video visita-se o alambique e descobre-se que as ervas vêm mosteiro já separadas conforme o tipo do licor, são trituradas no andar acima e caem por tubos para os alambiques. Ou seja, visitamos mas não vimos um raminho de erva sequer! Depois vem a tão esperada degustação! A saída da sala de degustação é por uma loja onde tem uma série de idéias de presentes além dos licores, obviamente.

Aproveitamos também para andar pela cidade e tirar algumas fotos das construções antigas. Em resumo, foi um passeio bem interessante e super econômico.